O Brasil supera gargalos para desbancar os EUA como maior exportador de milho

Brasil surpasses hurdles to overtake the US as the largest exporter of corn

SÃO PAULO, 24 de agosto (ANBLE) – O Brasil está prestes a ultrapassar os Estados Unidos este ano como o maior exportador mundial de milho, refletindo tanto uma safra recorde quanto avanços logísticos, como a consolidação das rotas de exportação do norte, que estão impulsionando a competitividade do poderoso setor de grãos da América do Sul.

As exportações de milho pelos portos do norte do Brasil, que utilizam as vias navegáveis da bacia do rio Amazonas para enviar grãos para todo o mundo, têm superado os volumes através do porto mais tradicional de Santos pelo terceiro ano consecutivo, de acordo com uma análise da ANBLE dos dados de transporte de grãos.

A mudança destaca como o Brasil, que produz três safras de milho por ano e ainda possui grandes extensões de terras agrícolas subutilizadas, está finalmente superando alguns dos gargalos de infraestrutura que há muito tempo dificultavam a chegada de suas colheitas abundantes aos mercados globais.

Isso e um novo acordo de fornecimento com a China anunciado no ano passado sugerem que o Brasil pode estar abrindo uma era mais longa de supremacia nas exportações de milho em relação aos Estados Unidos, ao contrário da última vez em que os brasileiros brevemente conquistaram a coroa global do milho durante a temporada de seca da América do Norte em 2012/13.

A melhora na capacidade de exportação ajudou o Brasil a preencher lacunas no mercado global de milho em meio a interrupções decorrentes da guerra no principal exportador de grãos, a Ucrânia, e das tensões comerciais entre os EUA e a China.

“Comemoramos muito… quando os volumes de exportação de milho pelos portos do norte igualaram Santos”, disse Sergio Mendes, chefe do grupo de exportadores de grãos do Brasil, Anec. “Ao usar portos do norte… você está economizando 20 reais (US$ 4,12) por tonelada de milho”.

Grandes investimentos recentes no Brasil começaram a aliviar vários gargalos e reduzir drasticamente os custos logísticos, ajudando a superar os agricultores dos Estados Unidos.

Rotas de exportação do norte, em particular, se beneficiaram de uma lei de 2013 que incentivou traders de grãos como Cargill e Bunge (BG.N) e a empresa de barcaças Hidrovias do Brasil (HBSA3.SA) a construir novos terminais portuários de uso privado (TUPs).

Seus terminais de transbordo nos rios Tapajós e Madeira conectaram o coração do país agrícola brasileiro aos portos emergentes da Amazônia, como Itacoatiara, Santarém e Barcarena.

O terminal de grãos Tegram em Itaqui, construído e operado por comerciantes de grãos estrangeiros e brasileiros, incluindo Louis Dreyfus Commodities e Amaggi, aumentou seus volumes de exportação de grãos em 306% em oito anos, para mais de 13 milhões de toneladas em 2022, de acordo com dados fornecidos pelas empresas.

O marco legal dos TUPs, ao contrário de uma concessão tradicional por tempo limitado, desencadeou uma onda de investimentos portuários de longo prazo no Brasil. Segundo um estudo de 2020 do Tribunal de Contas da União (TCU) do Brasil, cerca de 39 bilhões de reais (US$ 8,0 bilhões) foram investidos na construção e expansão de 112 novos terminais de uso privado sob a nova lei.

No entanto, a indústria agrícola do Brasil ainda enfrenta alguns problemas logísticos. A capacidade de armazenamento nas fazendas ainda é pequena em comparação com potências de grãos concorrentes como Canadá, Estados Unidos e Argentina.

No principal estado produtor de grãos, Mato Grosso, a lacuna de armazenamento havia aumentado para 46 milhões de toneladas métricas, de acordo com dados do governo estadual até 2021, após o aumento triplamente da safra de milho em uma década para mais de 90 milhões de toneladas, mais rápido do que os novos silos poderiam ser construídos.

A falta de espaço de armazenamento significa que os agricultores brasileiros são obrigados a vender rapidamente suas colheitas ou empilhar o milho fora dos armazéns e torcer pelo bom tempo. Como resultado, grande parte da colheita brasileira se acumula nas estradas durante uma janela sazonal estreita, o que pode resultar em engarrafamentos caros.

ROTA MAIS BARATA PARA A CHINA

A nova capacidade de exportação ajudou os grãos enviados pelos portos do norte do Brasil a competir em custos logísticos com os agricultores dos Estados Unidos.

Em março de 2023, o custo de transporte de uma tonelada de soja de Iowa para Xangai era 5% mais caro do que usar os portos do norte do Brasil, de acordo com dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos e da ESALQ-LOG do Brasil. Para o milho, os valores de frete são muito semelhantes, diz Thiago Pera, coordenador de pesquisa logística da ESALQ-LOG.

A bacia amazônica também se tornou competitiva com o porto do sudeste de Santos, há muito tempo o centro das exportações brasileiras de grãos. Segundo a agência de safras do Brasil, Conab, 37% das exportações totais de milho do Brasil fluíram pelos portos de Barcarena, Itaqui, Itacoatiara e Santarém no primeiro semestre de 2023. Apenas 24% fluíram pelo porto de Santos.

Em comparação, Santos exportou quase três vezes mais milho do que esses quatro portos do norte em 2015, antes dos pesados investimentos expandirem a capacidade portuária na região amazônica.

“A maior parcela dos embarques pelos portos do norte reflete custos de frete mais baratos em comparação com as rotas para os portos do sul e sudeste”, disse Thome Guth, funcionário da Conab.

A Conab prevê que a produção total de milho do Brasil em 2023 será de quase 130 milhões de toneladas métricas, um recorde histórico, e as exportações atingirão 50 milhões de toneladas métricas pela primeira vez.

Os futuros do milho em Chicago caíram de uma alta de 10 anos em abril de 2022 para uma baixa de dois anos e meio neste mês, em parte devido ao amplo fornecimento do Brasil.

A crescente infraestrutura de exportação do Brasil mostra pouco sinal de desaceleração, mesmo que os preços mais baixos possam desencorajar os agricultores a expandir o plantio rapidamente.

A empresa estatal chinesa COFCO está construindo um novo terminal de grãos de grande porte em Santos depois de obter uma licença de 25 anos para operar uma unidade com capacidade para 14 milhões de toneladas. Os embarques do terminal STS11 da COFCO estão programados para começar em 2026.

Uma licença rodoviária emitida dois anos atrás também modernizou um importante corredor de grãos amazônico que se estende por mais de 1.000 quilômetros, de Mato Grosso aos portos no estado do Pará, conhecido como BR-163.

Por anos, as caravanas de caminhões de grãos costumavam ficar presas regularmente na lama profunda dessa estrada quando eram pegas pela chuva a caminho dos portos do norte.

Grandes projetos ferroviários ainda enfrentam uma série de obstáculos burocráticos, mas alguns saíram do papel.

A maior empresa ferroviária do Brasil, a Rumo (RAIL3.SA), acaba de concluir um investimento de 4 bilhões de reais na Ferrovia Norte Sul, iniciada em 2019. A linha conecta o porto de Santos aos estados agrícolas de Tocantins, Goiás, Minas Gerais e Mato Grosso, reforçando outra rota importante para levar as colheitas brasileiras aos mercados globais.

(US$ 1 = 4,8769 reais)