Aspirantes à expansão do BRICS buscam reequilibrar a ordem mundial

BRICS aspirants seek to rebalance the world order.

JOANESBURGO, 21 de agosto (ANBLE) – A expansão do bloco BRICS em consideração em uma cúpula nesta semana atraiu uma equipe heterogênea de candidatos potenciais – do Irã à Argentina – com uma coisa em comum: o desejo de nivelar um campo de jogo global que muitos consideram manipulado contra eles.

A lista de queixas é longa. Práticas comerciais abusivas. Regimes de sanções punitivas. Percepção de negligência das necessidades de desenvolvimento de nações mais pobres. A dominação do Ocidente rico em órgãos internacionais, como as Nações Unidas, o Fundo Monetário Internacional ou o Banco Mundial.

Diante de uma insatisfação generalizada com a ordem mundial predominante, a promessa dos países do BRICS – atualmente Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – de tornar o grupo um grande defensor do “Sul Global” encontrou ressonância, apesar da falta de resultados concretos.

Mais de 40 países manifestaram interesse em ingressar no BRICS, segundo autoridades da África do Sul, que está sediando a cúpula de 22 a 24 de agosto. Destes, quase duas dezenas solicitaram formalmente a admissão.

“A necessidade objetiva de um agrupamento como o BRICS nunca foi maior”, disse Rob Davies, ex-ministro do comércio da África do Sul, que ajudou seu país a ingressar no bloco em 2010.

“Os órgãos multilaterais não são lugares onde podemos ir e obter um resultado equitativo e inclusivo.”

No entanto, observadores apontam para um histórico pouco impressionante que, segundo eles, não augura bem para as perspectivas do BRICS de cumprir as altas expectativas dos membros em potencial.

Embora abrigue cerca de 40% da população mundial e um quarto do PIB global, as ambições do bloco de se tornar um jogador político e econômico global têm sido há muito tempo frustradas por divisões internas e falta de uma visão coerente.

Suas economias antes em crescimento, especialmente a poderosa China, estão desacelerando. O membro fundador, Rússia, está isolado devido à guerra na Ucrânia. O presidente Vladimir Putin, procurado por um mandado de prisão internacional por supostos crimes de guerra, não viajará para Joanesburgo e participará apenas virtualmente.

“Eles podem ter expectativas exageradas do que a adesão ao BRICS realmente trará na prática”, disse Steven Gruzd, do Instituto Sul-Africano de Assuntos Internacionais.

INSATISFAÇÃO NO MUNDO EM DESENVOLVIMENTO

Embora o BRICS não tenha divulgado uma lista completa de candidatos à expansão, vários governos manifestaram publicamente seu interesse.

O Irã e a Venezuela, punidos e ostracizados por sanções, buscam reduzir seu isolamento e esperam que o bloco possa oferecer alívio a suas economias debilitadas.

“Outras estruturas de integração existentes em nível global são cegadas pela visão hegemônica promovida pelo governo dos EUA”, disse Ramón Lobo, ex-ministro das Finanças e ex-presidente do banco central da Venezuela, à ANBLE.

Os estados do Golfo Arábia Saudita e Emirados Árabes Unidos veem o BRICS como um veículo para um papel mais proeminente nos órgãos globais, dizem analistas.

Os candidatos africanos Etiópia e Nigéria são atraídos pelo compromisso do bloco com as reformas nas Nações Unidas, que dariam ao continente uma voz mais poderosa. Outros desejam mudanças na Organização Mundial do Comércio, Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial.

“A Argentina tem solicitado insistentemente uma reconfiguração da arquitetura financeira internacional”, disse um funcionário do governo argentino envolvido nas negociações para ingressar no BRICS à ANBLE.

‘MUITO DISCURSO, POUCA AÇÃO’

As posições públicas do BRICS já refletem muitas dessas preocupações.

E, à medida que busca se tornar um contrapeso ao Ocidente, diante das tensões entre a China e os Estados Unidos e das repercussões da invasão da Ucrânia pela Rússia, aumentar sua adesão pode dar ao bloco e sua mensagem global de reforma mais influência.

No entanto, à medida que se aproxima a cúpula, as deficiências do grupo estão em destaque.

Embora se espere que os líderes do BRICS na cúpula discutam um quadro para a admissão de novos membros, com a China e a Rússia ansiosas para avançar com a expansão, outros, especialmente o Brasil, estão preocupados com a pressa do processo.

Enquanto isso, os benefícios tangíveis de aderir ao bloco estão diminuindo.

A maior conquista concreta do bloco, o Novo Banco de Desenvolvimento, ou “banco BRICS”, teve seu ritmo já lento de empréstimos ainda mais prejudicado por sanções contra a Rússia, membro fundador.

Pequenos países que esperavam um impulso econômico com a adesão ao BRICS podem olhar para a experiência da África do Sul.

O comércio do BRICS, na verdade, aumentou constantemente desde que o país entrou no bloco, de acordo com uma análise feita pela Corporação de Desenvolvimento Industrial do país.

No entanto, esse crescimento se deve principalmente às importações da China, e o bloco ainda representa apenas um quinto do comércio bilateral total da África do Sul. Brasil e Rússia juntos absorvem apenas 0,6% de suas exportações e, no ano passado, o déficit comercial da África do Sul com seus parceiros do BRICS aumentou quatro vezes, chegando a US$ 14,9 bilhões em comparação com 2010.

Tais resultados devem fazer com que as nações candidatas pensem duas vezes, disse Gruzd.

“É difícil encontrar conquistas concretas para o BRICS. Muita conversa. Muito menos ação.”