Cúpula do G20 concorda em palavras, mas enfrenta dificuldades na ação

G20 summit agrees in words, but faces difficulties in action

NOVA DÉLHI, 11 de setembro (ANBLE) – O Grupo dos 20 principais economias alcançou um compromisso difícil sobre a guerra na Ucrânia e minimizou outras diferenças-chave em uma declaração de cúpula no fim de semana, apresentando poucas conquistas concretas em seu núcleo de respostas a questões financeiras globais.

Diplomatas e analistas disseram que o consenso surpreendente na declaração da cúpula sobre o conflito Rússia-Ucrânia evitou uma divisão no grupo, e a inclusão da União Africana como novo membro representou uma vitória para a Índia, anfitriã da cúpula, e para economias em desenvolvimento, mas o resto foi decepcionante.

“O G20 tem sido o melhor como um fórum multilateral quando consegue forjar consenso – não apenas em termos de linguagem, mas de ação – para lidar com questões globais sérias, como crises financeiras globais”, disse Michael Froman, presidente do Conselho de Relações Exteriores com sede em Nova York.

“Olhando para frente, o foco deve estar nisso, não na declaração em si”, disse Froman, ex-representante comercial dos Estados Unidos que também trabalhou como negociador do G20 e G8 de Washington.

A declaração da cúpula evitou condenar a Rússia pela guerra na Ucrânia, mas destacou o sofrimento humano causado pelo conflito e pediu a todos os estados que não usem a força para conquistar territórios.

Poucos esperavam que o G20 chegasse a um consenso sobre o documento, muito menos na primeira tarde da cúpula de dois dias, já que o grupo não havia concordado com um único comunicado nas 20 ou mais reuniões ministeriais deste ano devido à postura endurecida em relação à guerra.

Uma falta de acordo em uma declaração da cúpula sinalizaria que o G20 estava dividido, talvez irreversivelmente, entre o Ocidente de um lado e a China e a Rússia do outro, disseram analistas.

E com Pequim pressionando para reorganizar a ordem mundial expandindo grupos como BRICS e a Organização de Cooperação de Xangai, o G20 poderia acabar se tornando irrelevante, disseram eles.

CÚPULA DIFÍCIL

O G20 foi criado como uma plataforma de ministros das finanças e governadores de bancos centrais em 1999 para combater os efeitos da crise financeira asiática e a reunião foi ampliada para incluir líderes após a crise financeira global em 2008.

Seu papel principal de coordenar respostas a questões econômicas – incluindo tributação global e ajudar países de baixa renda a gerenciar sua carga de dívida no âmbito do Quadro Comum nos últimos anos – tem sido diluído porque a necessidade de buscar um consenso levou a acordos fracos, disseram alguns analistas.

Neste ano, resolver as diferenças sobre a guerra na Ucrânia e outras questões consumiu 25 dias de negociações, incluindo na semana que antecedeu a cúpula, disse Svetlana Lukash, a sherpa russa do G20, ou negociadora do governo, segundo a agência de notícias russa Interfax.

“Esta foi uma das cúpulas do G20 mais difíceis na história quase de vinte anos do fórum”, disse Lukash.

O processo do G20 exige consenso em todas as decisões, o que significa que ele buscará o “denominador comum mais baixo”, disse Patryk Kugiel, analista sênior do Instituto Polonês de Assuntos Internacionais em Varsóvia.

“Portanto, não temos nenhuma decisão, compromisso, promessa concretos e substanciais do G20 sobre nenhum dos desafios globais urgentes, desde mudanças climáticas até dívida”, acrescentou Kugiel. “Isso torna o fórum ineficaz, até mesmo inútil”.

No encontro de Nova Délhi, os líderes concordaram em triplicar a capacidade de energia renovável globalmente até 2030 e aceitaram a necessidade de reduzir gradualmente a energia do carvão não capturada.

No entanto, eles não estabeleceram um cronograma e disseram que o uso do carvão deveria ser reduzido de acordo com as circunstâncias nacionais.

O carvão, que está sendo eliminado do sistema de energia em muitas nações industrializadas, ainda é um combustível vital em muitas economias em desenvolvimento e pode continuar sendo por décadas.

A reunião também concordou em abordar as vulnerabilidades da dívida dos países pobres e fortalecer e reformar os bancos multilaterais de desenvolvimento, mas sem estabelecer metas concretas.

Também não houve progresso em fazer a Rússia retornar à iniciativa do Mar Negro, embora a declaração tenha pedido o fluxo seguro de grãos, alimentos e fertilizantes tanto da Ucrânia quanto da Rússia.

TEMOR DE DIVISÃO, DECEPÇÃO

Para a maioria dos principais membros do G20, no entanto, a declaração da cúpula pareceu ser uma grande conquista, uma vez que chegou a um consenso sobre a linguagem aceitável para se referir à guerra na Ucrânia.

O Ministro das Relações Exteriores, Sergei Lavrov, que representou a Rússia na cimeira em substituição do Presidente Vladimir Putin, afirmou que a presidência da Índia, “provavelmente pela primeira vez durante toda a existência do G20, consolidou verdadeiramente os participantes do G20 do Sul Global”.

Diplomatas disseram que negociadores da Índia, Indonésia, Brasil e África do Sul impulsionaram o consenso no documento da cimeira.

Os Estados Unidos, a Alemanha e o Reino Unido elogiaram a declaração.

Não houve nenhuma informação oficial da China, mas sua agência de notícias estatal Xinhua, sem mencionar a declaração, disse em um comentário no sábado que o G20 ainda pode funcionar.

A presença da China foi discreta na reunião, com o Presidente Xi Jinping ausente e Pequim representada pelo Premier Li Qiang, que assumiu o cargo em março deste ano.

Um funcionário francês que estava presente na cimeira disse que “o G20 continua sendo um clube capaz de forjar consensos entre o norte e o sul e entre o leste e o oeste”.

Apesar da falta de progresso concreto, Harsh Vardhan Shringla, coordenador-chefe do G20 da Índia, afirmou que a reunião fez avançar o grupo.

“As preocupações do mundo em desenvolvimento são tão grandes que, se falhássemos… eles teriam que enfrentar problemas muito maiores de divisão e, eu diria, até mesmo decepção”, disse ele à ANBLE.