Explicação Quão grave é a proibição de exportação de combustíveis da Rússia e quem será afetado?

Gravidade da proibição de exportação de combustíveis da Rússia e seus impactos.

MOSCOU/LONDRES/SINGAPURA, 4 de outubro (ANBLE) – A Rússia anunciou em 21 de setembro que proibiu temporariamente a exportação de gasolina e diesel para todos os países ex-soviéticos, exceto quatro, em resposta a escassez doméstica, uma medida que afetará o comércio global, que já teve que se ajustar às sanções ocidentais às exportações de combustíveis russos.

A Rússia aliviou algumas das restrições em 25 de setembro, permitindo a exportação de combustível para abastecimento de navios e diesel com alto teor de enxofre. O governo ainda não definiu um prazo para uma maior flexibilização das restrições.

Analistas dizem que os importadores terão que encontrar vendedores alternativos até que a Rússia possa repor seus próprios estoques.

O QUE CAUSOU O PROBLEMA?

Os negociantes disseram que o mercado de combustíveis na Rússia, um dos maiores produtores de petróleo do mundo, foi afetado por uma combinação de fatores, incluindo manutenção em refinarias de petróleo, gargalos ferroviários e a fraqueza do rublo, que incentiva as exportações de combustível.

A Rússia tentou lidar com a escassez de diesel e gasolina nos últimos meses, mas recorreu a restrições de exportação para evitar uma crise de combustível, o que poderia ser constrangedor para o Kremlin, já que uma eleição presidencial se aproxima em março.

O vice-primeiro-ministro Alexander Novak disse em 4 de outubro que as restrições estavam funcionando, acrescentando que os estoques aumentaram em 430.000 toneladas métricas desde a sua introdução.

QUÃO GRANDE É ESSE PROBLEMA PARA OS MERCADOS MUNDIAIS DE COMBUSTÍVEIS?

A proibição de diesel terá o maior impacto, já que a Rússia é o maior exportador marítimo mundial desse combustível, logo à frente dos Estados Unidos.

Ela enviou em média 1,07 milhão de barris por dia (bpd) de diesel desde o início do ano até 25 de setembro, o que representa mais de 13,1% do comércio total de diesel marítimo, de acordo com a empresa de análise de petróleo Vortexa.

A Rússia é um exportador de gasolina muito menos significativo, enviando em média 110.000 bpd de 1º de janeiro a 25 de setembro, segundo a Vortexa.

QUANTO TEMPO A PROIBIÇÃO VAI DURAR?

A Rússia disse que as exportações serão retomadas assim que o mercado doméstico estiver estabilizado, mas não deu um prazo.

O diário Kommersant informou em 4 de outubro que o governo russo estava pronto para suspender a proibição de exportação de diesel nos próximos dias, citando fontes não identificadas.

A agência de notícias TASS citou o ministro da Energia, Nikolai Shulginov, dizendo que o governo “em todos os níveis” estava discutindo permissão parcial para exportações de combustível.

Analistas, como a consultoria FGE Energy, disseram que a proibição do diesel poderia durar até duas semanas antes que a Rússia reponha seus estoques e retome as exportações.

As expectativas para a duração da proibição de gasolina variam. O JP Morgan disse que poderia durar algumas semanas até o final da temporada de colheita em outubro, enquanto a FGE Energy disse que repor os estoques de gasolina da Rússia poderia levar até dois meses.

QUEM SERÁ MAIS AFETADO?

Depois que a União Europeia proibiu as importações de combustíveis russos devido à invasão da Ucrânia por Moscou, a Rússia redirecionou as exportações de diesel e outros combustíveis destinadas à Europa para o Brasil, Turquia, vários países do norte e oeste da África e estados do Golfo no Oriente Médio. Os estados do Golfo, que possuem refinarias importantes, reexportam o combustível. A proibição russa mudará novamente esses fluxos.

O suprimento de diesel dos portos russos para o Brasil chegou a cerca de 4 milhões de toneladas de 1º de janeiro a 25 de setembro, em comparação com 74.000 toneladas em todo o ano de 2022, segundo dados da LSEG. O combustível russo substituiu as importações de diesel do Brasil dos Estados Unidos.

Uma proibição prolongada das exportações de diesel da Rússia poderia fazer com que o Brasil substituísse até 400.000 toneladas do combustível por mês, disseram fontes do mercado.

A Turquia foi o principal destino para o suprimento de diesel dos portos russos após o embargo da União Europeia, que totalizou cerca de 7 milhões de toneladas desde o início deste ano, mas ainda poderá comprar gasóleo russo com alto teor de enxofre, disseram os negociantes.

DE ONDE VIRÃO OS SUPRIMENTOS ALTERNATIVOS?

Estados africanos devem recorrer a suprimentos de gasóleo e diesel enviados do Oriente Médio, Índia e Turquia, disseram fontes comerciais e de navegação.

Pelo menos 132.000 toneladas de diesel com carga prevista para setembro seguirão para a África a partir da nova refinaria de Duqm, de Omã, de acordo com dados de rastreamento de navios da Kpler e de duas empresas de corretagem de navios.

Os importadores latino-americanos provavelmente buscarão a costa do Golfo dos Estados Unidos e o Oriente Médio, disseram traders.

As exportações de diesel do Oriente Médio para a América Latina atingiram o maior nível em oito meses, com 315.000 toneladas, de acordo com dados de rastreamento de navios da Kpler e de uma fonte de corretagem de navios.

A Europa também poderia preencher parte do vácuo deixado pelo embargo da Rússia à gasolina. Fornecedores do noroeste europeu, que perderam participação de mercado na África Ocidental para os suprimentos russos este ano, poderiam entrar no jogo, disse a FGE.

O QUE A MUDANÇA NOS FLUXOS DE COMÉRCIO DE COMBUSTÍVEIS SIGNIFICARÁ PARA A EUROPA?

Desde o embargo às importações de combustíveis russos, a Europa tem buscado fornecedores em outras regiões, incluindo o Oriente Médio. A competição por esses suprimentos agora aumentará devido ao embargo da Rússia, o que terá impacto em toda a Europa.

Como resultado, traders afirmaram que esperam que refinarias do nordeste asiático, na China e na Coreia do Sul, aumentem as exportações de diesel para a Europa.

A China exportou cerca de 190.000 toneladas de diesel para a Europa em setembro, com 45.000 toneladas programadas para carregar em outubro também destinadas a países ocidentais, de acordo com dados de rastreamento de navios da Kpler e de uma fonte de corretagem de navios.