Quão grave é a proibição de exportação de combustível da Rússia e quem será afetado?

Gravidade da proibição de exportação de combustível da Rússia e seus impactos?

MOSCOU/LONDRES/CINGAPURA, 27 de setembro (ANBLE) – A Rússia anunciou em 21 de setembro que havia proibido temporariamente as exportações de gasolina e diesel para todos, exceto quatro países ex-soviéticos, em resposta a escassez doméstica, uma medida que afetará o comércio global que já teve que se ajustar às sanções ocidentais às exportações de combustível russo.

A Rússia flexibilizou algumas das restrições em 25 de setembro, afirmando que permitiria a exportação de combustível para abastecimento de navios e diesel com alto teor de enxofre.

Mas os analistas afirmam que os importadores ainda terão que encontrar vendedores alternativos até que a Rússia possa repor seus próprios estoques.

O QUE CAUSOU O PROBLEMA?

Traders disseram que o mercado de combustíveis na Rússia, um dos maiores produtores de petróleo do mundo, foi afetado por uma combinação de fatores, incluindo manutenção em refinarias de petróleo, gargalos ferroviários e a fraqueza do rublo, que incentiva as exportações de combustível.

A Rússia tentou lidar com as escassezes de diesel e gasolina nos últimos meses, mas recorreu a restrições às exportações para evitar uma crise de combustível, o que poderia ser complicado para o Kremlin, já que uma eleição presidencial está prevista para março.

QUÃO GRANDE É O PROBLEMA PARA OS MERCADOS MUNDIAIS DE COMBUSTÍVEIS?

A proibição do diesel terá o maior impacto porque a Rússia é a maior exportadora marítima mundial de diesel, logo à frente dos Estados Unidos.

No período de janeiro a 25 de setembro, foram enviados em média 1,07 milhão de barris por dia (bpd) de diesel, representando mais de 13,1% do total do comércio marítimo de diesel, de acordo com a empresa de análise de petróleo Vortexa.

A Rússia é uma exportadora de gasolina muito menos significativa, enviando em média 110.000 bpd no período de um ano até 25 de setembro, segundo a Vortexa.

QUANTO TEMPO A PROIBIÇÃO VAI DURAR?

A Rússia disse que as exportações serão retomadas assim que estabilizar seu mercado interno, mas não deu um prazo preciso.

Analistas, como a consultoria FGE Energy, afirmaram que a proibição do diesel pode durar até duas semanas antes que a Rússia reponha seus estoques e retome as exportações.

As expectativas para a duração da proibição da gasolina variam. O JP Morgan disse que ela pode durar algumas semanas até o final da temporada de colheita em outubro, enquanto a FGE Energy afirmou que repor os estoques de gasolina da Rússia pode levar até dois meses.

QUEM SERÁ MAIS AFETADO?

Após a União Europeia proibir as importações de combustíveis russos devido à invasão da Ucrânia por Moscou, a Rússia redirecionou as exportações de diesel e outros combustíveis para o Brasil, Turquia, diversos países do norte e oeste da África e países do Golfo no Oriente Médio. Os países do Golfo, que possuem suas próprias refinarias importantes, reexportam o combustível. A proibição russa mudará novamente esses fluxos. O suprimento de diesel dos portos russos para o Brasil chegou a cerca de 4 milhões de toneladas métricas no ano até 25 de setembro, em comparação com 74.000 toneladas em todo o ano de 2022, de acordo com dados da LSEG. O combustível russo substituiu as importações de diesel do Brasil dos Estados Unidos.

Uma proibição prolongada das exportações de diesel da Rússia pode forçar o Brasil a substituir até 400.000 toneladas do combustível por mês, disseram fontes de mercado. A Turquia era o principal destino do abastecimento de diesel dos portos russos após o embargo da União Europeia, que totalizou cerca de 7 milhões de toneladas desde o início deste ano, mas ainda poderá comprar gasóleo russo de alto teor de enxofre, acrescentaram os traders.

DE ONDE VIRÃO OS SUPRIMENTOS ALTERNATIVOS?

Prevê-se que os países africanos recorram a suprimentos de gasóleo e diesel enviados do Oriente Médio, Índia e Turquia, disseram fontes de comércio e transporte.

Pelo menos 132.000 toneladas de diesel com carga para setembro seguirão para a África a partir da nova refinaria Duqm de Omã, mostram dados de rastreamento de navios da Kpler e de duas empresas de corretagem marítima.

Os importadores da América Latina provavelmente recorrerão ao Golfo do México dos Estados Unidos e ao Oriente Médio, disseram os traders.

As exportações de diesel do Oriente Médio para a América Latina atingiram uma alta de oito meses, totalizando 315.000 toneladas, de acordo com dados de rastreamento de navios da Kpler e de uma fonte de corretagem marítima.

A Europa também pode preencher parte da lacuna deixada pela proibição da gasolina russa. Fornecedores do noroeste europeu, que perderam participação de mercado na África Ocidental para os suprimentos russos este ano, podem intervir, segundo a FGE.

O QUE A MUDANÇA NOS FLUXOS COMERCIAIS DE COMBUSTÍVEIS SIGNIFICARÁ PARA A EUROPA?

Desde a proibição das importações de combustíveis russos, a Europa tem buscado fornecedores em outros lugares, incluindo o Oriente Médio. A competição por esses suprimentos agora aumentará devido à proibição da Rússia, o que terá um impacto em cascata na Europa.

Como resultado, os negociantes disseram que esperavam que refinarias do nordeste da Ásia, na China e na Coreia do Sul, aumentassem as exportações de diesel para a Europa.

A China exportou cerca de 190.000 toneladas de diesel para a Europa em setembro, com 45.000 toneladas programadas para carregar em outubro também destinadas a países ocidentais, conforme dados de rastreamento de navios da Kpler e dados de uma fonte de corretagem de navios.