A guerra entre Israel e o Hamas está expondo os novos limites e desafios ao poder dos Estados Unidos

A batalha épica entre Israel e o Hamas desvendando os novos desafios ao poder dos EUA

  • O poder dos Estados Unidos está sendo percebido como em declínio, e os rivais estão ocupando o espaço vazio.
  • Rússia e China estão buscando explorar a guerra entre Israel e o Hamas.
  • Os Estados Unidos estão embarcando em uma missão para impedir que a guerra se transforme em um conflito mais amplo.

Em meio à brutal guerra entre Israel e o Hamas, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, buscou projetar força.

Ele prometeu fornecer a Israel apoio “inabalável” em resposta aos ataques terroristas do Hamas em 7 de outubro, que mataram centenas de pessoas em cidades israelenses, bases militares e em um festival de música.

Mas o novo conflito ameaça expor claramente os limites da influência dos Estados Unidos na região, onde há décadas era a potência internacional incontestável.

Nos últimos anos, os Estados Unidos buscam focar sua rivalidade com a China em vez de se envolver em uma região volátil que tem consumido recursos americanos e prejudicado sua reputação militar.

Rússia e China aproveitaram o vácuo de poder percebido, buscando projetar sua influência e minar os Estados Unidos. Além disso, aliados tradicionais parecem mais inclinados a seguir um caminho independente.

Rússia e China buscam explorar o conflito

Rússia e China buscaram construir alianças entre as divisões militares e sectárias que têm marcado a região há décadas.

A China estabeleceu fortes laços econômicos tanto com Israel quanto com a Arábia Saudita – os principais aliados dos Estados Unidos na região – ao mesmo tempo em que mantém proximidade com o tradicional inimigo regional dos Estados Unidos, o Irã.

Rússia Foreign Minister Sergei Lavrov (dir.) cumprimenta o líder exilado do Hamas, Khaled Mechaal (esq.), em Moscou, em 8 de fevereiro de 2010.
NATALIA KOLESNIKOVA/AFP via Getty Images

A Rússia também é amigável não apenas com inimigos tradicionais dos Estados Unidos na região, como Irã e Síria, mas também com aliados tradicionais dos Estados Unidos, Israel e os estados do Golfo.

A influência crescente de Pequim na região foi destacada quando, em junho, mediou negociações de paz entre o Irã e a Arábia Saudita, que há muito tempo estão envolvidos em guerras por procuração na região.

Tanto Moscou quanto Pequim estão buscando usar o novo conflito para diminuir ainda mais a influência dos Estados Unidos e explorar a raiva em relação à resposta de Israel aos ataques.

O presidente russo, Vladimir Putin, e o líder chinês, Xi Jinping, se encontraram em Pequim na terça-feira, em uma reunião que provavelmente fortalecerá sua aliança informal contra os Estados Unidos.

Isso faz parte de uma missão para se posicionarem como defensores de nações há muito prejudicadas pela percebida hipocrisia e intromissão ocidental, apesar das ambições de Pequim e Moscou em expandir seu território pela força.

O Kremlin atribui a culpa do conflito aos Estados Unidos, ao mesmo tempo em que se recusa a condenar o Hamas pelos ataques que levaram a região à guerra. Pequim culpa Israel pela guerra e expressa solidariedade aos palestinos.

Ambos a Rússia e a China poderiam lucrar com um conflito prolongado, com o Kremlin acreditando que o foco do Ocidente seria desviado da Ucrânia, que depende muito da ajuda dos Estados Unidos e da Europa para combater a invasão russa. Enquanto isso, a China há muito busca reestabelecer sua autoridade sobre Taiwan.

A Rússia até mesmo se ofereceu para ajudar a mediar um cessar-fogo na guerra entre Israel e o Hamas, uma medida que analistas alertam que o Kremlin poderia explorar para prolongar o conflito.

Os Estados Unidos ainda mantêm alianças na região, consolidadas ao longo de décadas com apoio militar e econômico, mas parecem mais frágeis do que nunca.

São alianças nas quais a Casa Branca está contando ao buscar conter a guerra entre Israel e o Hamas e evitar que ela se transforme em um conflito regional mais amplo. Biden também buscará impor sua influência nos eventos durante uma visita planejada a Israel na quarta-feira.

Tour relâmpago de Blinken para evitar a escalada da guerra

Na última semana, o Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, embarcou em uma turnê por seis capitais do Oriente Médio na tentativa de evitar a escalada da guerra entre Israel e Hamas.

O Irã, principal apoiador do Hamas, ameaçou entrar no conflito caso Israel invada Gaza. A milícia Hezbollah, financiada por Teerã, na fronteira norte de Israel, tem ameaçado abrir uma segunda frente na guerra.

O Irã também poderia atacar aliados dos EUA na região ou alvos no exterior, provocando uma resposta militar e arrastando países para o conflito.

Príncipe Herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman, encontra-se com o Secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, em Riade, Arábia Saudita, em 15 de outubro de 2023.
Royal Court of Saudi Arabia/Anadolu via Getty Images

Outro objetivo fundamental de Blinken é tentar persuadir líderes regionais a acalmar a fúria em relação aos bombardeios de Israel em Gaza, que autoridades de saúde palestinas afirmam ter matado milhares de civis. Outro objetivo é restringir a resposta de Israel e evitar mortes de civis.

Até agora, a turnê de Blinken resultou em poucos resultados concretos. De acordo com o The Washington Post, o governante da Arábia Saudita, Mohamed bin Salman, em um gesto extraordinário, fez Blinken esperar por horas para uma reunião e, em seguida, cancelou-a e apareceu no dia seguinte. O Catar continua fornecendo refúgio para líderes do Hamas, apesar da pressão diplomática dos EUA.

Ainda está por se ver se os aliados do Golfo dos EUA se unirão ao objetivo dos EUA de condenar a violência do Hamas enquanto contêm uma raiva mais ampla.

Mas, apesar de Blinken encontrar portas fechadas e becos sem saída, os EUA mantêm influência.

Os EUA enviaram dois porta-aviões para a região como um impedimento ao Irã para que não entre no conflito e para mostrar força aos que buscam prejudicar os aliados dos EUA.

Apesar de toda a retórica, a influência de Moscou e Pequim ainda não superou a dos EUA.

“A principal alavanca da China na região era o acesso aos seus mercados, aos seus investimentos. É o seu poder econômico”, disse Gordon Flake, CEO do Centro USAsia da Universidade da Austrália Ocidental, ao The Wall Street Journal. “Eles ainda não têm poder bélico naquela região, então ninguém está recorrendo aos chineses para resolver seus problemas.”