Tim Cook disse que a Apple e a China tinham uma relação ‘simbiótica’ apenas 6 meses atrás. Agora, a proibição relatada do iPhone por parte de Pequim pode significar que os bons sentimentos acabaram.

Tim Cook disse que a relação entre a Apple e a China era 'simbiótica' há apenas 6 meses. Agora, a proibição do iPhone por Pequim significa que os sentimentos positivos acabaram.

A relação agora está sendo testada diante de relatos de que Pequim está impedindo alguns de seus funcionários estatais de usar o smartphone da Apple, enquanto a China adota uma postura rígida contra o uso oficial de tecnologias estrangeiras.

Pequim está ordenando que funcionários de alguns departamentos governamentais parem de usar iPhones, informou o Wall Street Journal na quarta-feira. Pequim também está considerando estender a proibição para todo o governo e para empresas estatais, informou a Bloomberg na quinta-feira.

A notícia afetou seriamente as ações da Apple. As ações caíram quase 7% nos últimos dois dias, eliminando US$ 200 bilhões em valor de mercado para a empresa de tecnologia. (A Apple ainda é de longe a empresa mais valiosa do mundo, avaliada em US$ 2,7 trilhões, em comparação com a segunda colocada, a Microsoft, com US$ 2,4 trilhões.)

A Apple não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.

Se Pequim realmente limitar o uso do iPhone, isso pode ser um golpe para a estreita conexão entre a Apple e a China. No entanto, já era uma relação um pouco instável após interrupções na cadeia de suprimentos e agora está pressionada pelo retorno de um concorrente: a Huawei Technologies.

O quão importante é a China para a Apple?

A China é fundamental para a cadeia de suprimentos e vendas da Apple.

A Apple depende de fornecedores chineses para fabricar muitos de seus eletrônicos, incluindo o iPhone, iPad, AirPods e seu próximo fone de ouvido Vision Pro. Cerca de metade dos smartphones da Apple são fabricados em um gigantesco complexo de fábricas em Zhengzhou, apelidado de “iPhone City”, operado pelo fabricante de eletrônicos Foxconn.

A China também é um importante mercado consumidor para a Apple, sendo o maior mercado fora dos Estados Unidos. A empresa gerou US$ 15,8 bilhões em vendas apenas na China no último trimestre, representando pouco mais de 19% do total. E os consumidores chineses também adoram o iPhone: a Apple tem uma participação de mercado de 65% para telefones premium acima de US$ 600, segundo o Wall Street Journal citando dados da empresa de pesquisa IDC. (A Apple ocupa o quarto lugar no geral, atrás das marcas domésticas mais baratas Oppo, Vivo e Honor, de acordo com o South China Morning Post.)

A Apple também cumpre as regulamentações chinesas sobre censura e segurança de dados, incluindo o armazenamento dos dados pessoais de seus clientes chineses em centros de dados domésticos.

No entanto, eventos recentes podem ter levado a Apple a reconsiderar sua dependência do país. Os bloqueios de COVID-zero, especialmente em Zhengzhou, levaram a empresa a alertar em novembro passado que a produção dos iPhones mais recentes seria menor do que o esperado para a temporada de férias nos EUA.

A desaceleração econômica da China também pode afetar as vendas de smartphones, embora a Apple tenha conseguido resistir à queda na confiança do consumidor até o momento. A Apple foi a única fornecedora de smartphones entre as cinco primeiras na China a aumentar suas vendas no último trimestre, segundo a CNBC.

A Apple está investindo em manufatura em outros lugares da Ásia para diversificar sua cadeia de suprimentos. A empresa agora fabrica 7% de seus iPhones na Índia e supostamente iniciou a produção do próximo iPhone no país do sul asiático. A Apple também está transferindo parte da produção de iPads, Macbooks e AirPods para o Vietnã.

E a empresa também espera que a Índia seja o próximo grande mercado para seus eletrônicos. Cook chamou o país de “um mercado imensamente empolgante para nós” em uma ligação com analistas em fevereiro, e a Apple abriu suas primeiras lojas de varejo no país no início deste ano.

Preocupações com espionagem

Segundo relatos, a China estabeleceu um plano em 2019 para remover toda a tecnologia estrangeira das operações governamentais em três anos. A decisão foi motivada em parte por sanções dos EUA à Huawei, impedindo-a de comprar chips avançados. A empresa chinesa foi obrigada a interromper a produção de seus telefones premium, revelando a influência dos EUA sobre o setor de tecnologia da China.

No ano passado, a China ordenou que agências governamentais deixassem de usar PCs e software estrangeiros, direcionando-os de empresas ocidentais como HP e Microsoft para alternativas domésticas como Lenovo e Kingsoft.

Preocupações chinesas com segurança de dados e espionagem também se estenderam à Tesla, com autoridades por vezes proibindo os carros elétricos da empresa de áreas sensíveis.

É claro que os EUA também têm preocupações semelhantes com espionagem quando se trata de hardware e software fabricados na China. Washington pressionou empresas de telecomunicações dos EUA a remover a Huawei de suas redes 5G e proibiu o TikTok, do desenvolvedor chinês ByteDance, de dispositivos governamentais. Atualmente, os EUA estão discutindo se devem proibir o TikTok totalmente no país.

Uma alternativa

E outra ameaça para a Apple pode estar surgindo no horizonte.

A Huawei, em um determinado momento a maior fabricante de smartphones do mundo, lançou silenciosamente o Mate 60 Pro na semana passada. O telefone apresenta desempenho que acompanha o iPhone da Apple e um processador que está apenas alguns anos atrás do estado da arte. Essa conquista tecnológica ocorre apesar dos anos de restrições dos EUA às vendas de chips avançados e equipamentos de fabricação de chips para a Huawei e para a China em geral, numa tentativa de enfraquecer o setor de semicondutores do país.

Na sexta-feira, a Huawei anunciou uma versão ainda mais poderosa do Mate 60 Pro, que possui mais memória e conexões com o concorrente chinês do GPS, o BeiDou.

Embora a Huawei tenha sido discreta sobre o lançamento do telefone, a mídia estatal chinesa não foi. “O ressurgimento dos smartphones da Huawei após três anos de silêncio forçado é prova suficiente de que a supressão extrema dos EUA falhou”, escreveu o Global Times, um veículo estatal em inglês.

O Departamento de Comércio dos EUA anunciou na quinta-feira que investigaria como a Huawei obteve o chip avançado, fabricado pela também incluída na lista negra Semiconductor Manufacturing International Corporation, a maior fabricante de chips da China.